segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Selecionando o Lixo...

Como estive um tempo no Brasil, acabei me desacostumando de escrever no meu blog e ainda fiquei outro bom tempo sem escrever desde que voltei, há umas três semanas. Nada como achar um tema interessante para falar e retomar as atividades.

Muito tem-se falado da questão selecionar os resíduos que retornariam para a natureza, assimilando os conceitos de sustentabilidade. Os 3R's (reuse, reduza e recicle) foram assumidos aqui pela sociedade em diversos aspectos do dia-a-dia no Japão. Primeiro porque o país apresenta-se limitado de recursos naturais por sua área e por sua geografia. Alem disso, os conceitos são passados nas mais diversas esferas da sociedade, tais como escolas, mídia, campanhas, entre outros. Depois porque o governo japonês assinou diversos termos de compromissos internacionais, principalmente no que tange a redução da emissão de dióxido de carbono para a atmosfera, o que contribui com a mitigação do tão discutido e temido aquecimento global.

O que pode ser constatado no dia-a-dia é que as ações são conscientes, principalmente nas pequenas atitudes, e não apenas como campanhas que temos no Brasil, tais como a de "um dia sem carro" ou "um dia sem sacolas plásticas", como vi ontem na Internet. Um dia apenas, claro que é importante, mas não resolve a questão do meio-ambiente. O fundamental é assumir a responsabilidade para uma prática constante e de rotina.

O mais visível daqui fica para o sistema de coleta de lixo, feita de maneira seletiva. Existe um agendamento informado pela prefeitura para cada área da cidade. O lixo orgânico é coletado duas vezes na semana, em outro dia da semana são coletados os lixos recicláveis, como latas, garrafas pet, bandeijinhas de isopor, papelão, vidros e outras modalidades como em recolhimentos especiais, como a coleta de revistas, jornais, papel alumínio, baterias, roupas e outros. A verdade é que realmente os destinos são tomados para que sejam devidamente reciclados ou transformados.

E mais, é necessário um agendamento para o recolhimento de ítens especiais, como móveis e eletrodomésticos, sob o pagamento de uma taxa. Inacreditável e admirável é o como todos da sociedade estão habituados a esta realidade e têm a consciência do como tudo deve ser descartado. Assim, toda essa consciência viabiliza uma realidade bem mais sustentável do que a que temos no Brasil. Fato que no Brasil existem algumas ações que são fundamentais para o reaproveitamento de determinados tipos de lixo, tais como os de latas de alumínio e garrafas pet. Porém, estas ações acontecem sobretudo fomentada pela questão economica, desde os catadores aos empresários que possuem negócios como a transformação de garrafas pet em vassouras, tapetes de automóveis ou mesmo cordas, assim como a reciclagem de latinhas. A viabilidade da ação acontece apenas focada em determinados ítens.

Ainda assim, em 2007 tive a oportunidade de visitar e desenvolver um projeto arquitetonico para a área de aterro sanitário da Grande Vitoria, a Marca Ambiental. Ali existem células de pesquisa para a transformação de determinados tipos de lixo em outros materiais, vinculados a projetos sociais de capacitação. Considerei de extrema importância, porem ainda não cobre a real importância do que significa o descarte diário de uma área urbana, ainda mais em termos nacionais.

Aqui na região metropolitana de Tóquio, através da universidade onde estudo, tive a chance de visitar uma área do recebimento de esgoto de todas as edificações. Do resíduo sólido de todo este esgoto, sobretudo as fezes, existe um sistema gigante que, através da queima, é capaz de gerar energia elétrica e gás para um bairro inteiro, inclusive com torres altas de escritórios, a região chamada Makuhari ( http://www.energy-advance.co.jp/area/makuhari_district.html ). O projeto é inacreditável. E para os usuários finais, a energia é exatamente da mesma qualidade do fornecimento comum. Também o projeto da ilha artificaial de Odaiba, distrito extremamente valorizado da cidade, que também foi realizado com o lixo urbano. Ou seja, solo de Odaiba se compõe basicamente de lixo ( http://web-japan.org/tokyo/know/odaiba/odaiba.html ).

Apesar dessa consciência toda, infelizmente no Japão, a quantidade de material usado para embalagens ainda apresenta-se muito exagerado. Sobretudo em se tratando do plástico. Os japoneses ainda não se livraram do mal costume de embalar ao extremo os seus produtos. Mas se forem considerados os destinos tomados para os lixos pré selecionados, muito tem o que ensinar, mas ainda muito o que aprender. Tudo isso faz parte da evolução em busca de soluções para as catástrofes naturais que já estamos enfrentando. Cabe a cada um fazer a sua parte, diariamente! Você já fez a sua?